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Foto do escritorAna Luiza

Volta ao presencial: como o ensino remoto influenciou na alfabetização das crianças brasileiras


Brasil foi o país que manteve a pré-escola e o Ensino Fundamental sem aulas presenciais por mais tempo durante a pandemia


*matéria realizada em set/2021.


No dia 8 de setembro, comemorou-se o Dia Mundial da Alfabetização. No Brasil, a data vem acompanhada de bastante preocupação. O país ainda tem 11 milhões de analfabetos, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua Educação 2019, divulgada pelo IBGE. Com o ano atípico, de pandemia e ensino remoto forçado, o desafio para alfabetizar se tornou ainda maior.


Para Iris Barbara, professora do primeiro ano do Ensino Fundamental na rede particular em Itajaí, as aulas online foram um período difícil. Nos primeiros meses de 2021, ela deu aulas remotas para alguns alunos que escolheram não voltar ao presencial. “Era complicado me posicionar somente em um lugar para falar com quem está do outro lado [virtual], porque não tinha como deixar a turma em sala sem a professora circulando e explicando. Principalmente o primeiro ano, em alfabetização, porque eles precisam de auxílio o tempo inteiro”, relatou.

Segundo a Base Nacional Comum Curricular brasileira, o domínio da leitura e da escrita, ainda que em fase inicial, deve ocorrer nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. Mesmo assim, o Brasil foi o país que manteve a pré-escola e o ensino fundamental sem aulas presenciais por mais tempo durante a pandemia em 2020. O dado é do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em setembro, em comparação com as mais de 40 nações analisadas.



Iris conta que seus alunos chegaram no primeiro ano muito defasados. “Na verdade, a nossa sala de alfabetização é como se fosse um pré [escolar]. Todos eles chegaram sem noção de basicamente nada. Letras, números… nada. Somente um lia, ninguém sabia escrever muito bem, não tinham noção de espaço, de onde escrever no caderno. Eles vieram super perdidos”, contou.


A professora também destacou a questão do uso de máscaras durante o processo de alfabetização. Para ela, apesar de necessárias, também dificultam o ensino. “A turma precisa ver meu lábio, como estou pronunciando as palavras, a boca abrindo e fechando, quantas sílabas as palavras têm. O aluno precisa ter uma boa noção da fonética. Em momentos de leitura e nos autoditados, é necessário abaixar a máscara. Eu me afasto bastante deles e fico próxima ao quadro”, afirmou.



Socialização


Além da aprendizagem, o nível de socialização das crianças obteve grandes perdas. O médico psiquiatra Celso Lopes de Souza, cofundador do Programa Semente – referência em aprendizagem socioemocional nas escolas –, conta que as instituições de ensino precisam pensar em propostas pedagógicas que reforcem as habilidades socioemocionais que foram comprometidas durante o último ano e meio. “A falta de interação física afetou as aptidões sociais e emocionais de todos, principalmente da comunidade escolar”.




Reels do perfil @profbrunamartiolli, no Instagram.


Gabriela Cabral, mãe de um aluno no 2º ano do Ensino Fundamental de um colégio particular em Itajaí, considera essencial o período no colégio. “O que fez falta do presencial foi a socialização, a criança estar próxima dos amigos, fazer atividade física. No colégio, eles têm espaço. Como ele é meu primeiro filho sendo alfabetizado, foi tudo novidade. Para mim, estar na aula presencial é crucial para o desenvolvimento dele”, relatou.


Entretanto, Gabriela destaca pontos positivos no ensino remoto. Segundo ela, foi possível ter mais proximidade com os estudos do filho. “A gente conseguiu fazer as atividades junto com ele, foi muito gostoso estar por dentro do que ele está estudando”, contou. Seu filho cursou o primeiro ano do fundamental totalmente em ensino remoto e terminou 2020 alfabetizado. Para ela, a professora foi crucial, com muita experiência na área e domínio das tecnologias.


Porém, de acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil está entre os países da América Latina e do Caribe que mais sofreram com os longos períodos de fechamento das escolas públicas até o momento, podendo elevar o índice de pobreza de aprendizagem de 48% para 70% e afetar de maneira desproporcional a população pobre, já que o ensino à distância beneficiou menos de 50% dos estudantes nas regiões menos desenvolvidas, contra 92% dos estudantes nas regiões mais ricas do país.


Segundo Iris, a situação do ensino público é muito difícil. “Trabalhando no privado, nós temos todo um aparato. Os meninos do TI deixam tudo montadinho para as professoras, com computador em cada sala. Na escola pública, cada professor teve que se virar, tiveram que comprar notebook, câmera, investir… porque não tem ninguém para dar suporte”, conta ela.


Foto: G1

Um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na educação apontou que, em novembro de 2020, pelo menos duas milhões de crianças entre seis e dez anos de idade não tiveram acesso à educação no Brasil. Além disso, o estudo mostra que a exclusão atingiu mais quem já vivia em situação vulnerável, como em regiões com acesso limitado ou inexistente à internet ou a sinais de TV.



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