Conheça a condição autoimune que afeta mais de 150 mil brasileiros por ano
Em Santa Catarina, a Semana de Conscientização sobre a Intolerância ao Glúten, à Lactose e Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) é celebrada anualmente na terceira semana do mês de maio. A data foi instituída por meio de um projeto de lei de autoria do deputado Marcius Machado. O objetivo é divulgar informações sobre os sintomas, a contaminação cruzada em alimentos, a importância do diagnóstico precoce e da dieta alimentar adequada e segura. Fonte: Agência Alesc.
Aos 16 anos, Nicole Reig Castro, estudante de Nutrição no Centro Universitário Avantis, descobriu que era celíaca. A doença celíaca é uma enfermidade autoimune desencadeada pelo glúten, proteína presente no trigo, centeio e cevada, que afeta mais de 150 mil brasileiros por ano.
Após a descoberta, Nicole precisou mudar muitos hábitos, a rotina e, principalmente, sua relação com a comida. Em 2020, criou o Nicole Reig Doces, sua empresa de doces sem glúten, lactose e livres de contaminação cruzada. Com mais de 900 seguidores no Instagram, o perfil faz sucesso em Itajaí e região. Nesta entrevista pingue-pongue, conversamos sobre a descoberta da doença e o longo processo de adaptação ao seu “novo normal".
Como você descobriu a doença celíaca?
Em 2018, quando entrei no ensino médio, minha sala de aula era ao lado de uma loja que vendia salgadinhos. Nessa época, eu estava passando por vários momentos que mexeram muito com o meu psicológico. Hoje, a gente sabe que o lado emocional afeta bastante o nosso corpo, e pode desencadear vários problemas alimentares. Os meus problemas somados à experiência de passar horas do lado desse lugar que fritava salgadinhos, em contato com a molécula do glúten, me fizeram passar muito mal. Eu sentia enjoos, alergias sempre e cheguei até a desmaiar. Depois de diversos exames, a gente descobriu a doença celíaca.
Existe tratamento?
Sim. A doença celíaca não tem cura, é uma condição que vou levar para o resto da minha vida, mas existe o tratamento. Esse tratamento é a dieta isenta de glúten, totalmente, para que o intestino não seja tão agredido quanto ele seria se eu continuasse consumindo.
E o processo de adaptação, como aconteceu? O que precisou mudar?
Acredito que ainda passo por esse processo. Sempre acontecem recaídas, emocionalmente falando. É muito difícil encontrar lugares que tenham opções para as pessoas que não podem consumir glúten e sejam locais livres de contaminação cruzada. Então, estou sempre com a minha marmita, para não perder, na medida do possível, oportunidades de me reunir com amigos, familiares e tudo mais. Às vezes, ainda vem aquela pergunta “Meu deus, por que comigo?”. Tive que mudar completamente a minha vida. Alguns eletrodomésticos precisaram ser trocados por novos. Passei a ler rótulos, também. Desde um frasco de esmalte até o que eu vou comer.
Pode explicar um pouco sobre a contaminação cruzada?
A contaminação cruzada, como já diz o nome, é quando a contaminação pelo glúten não acontece de forma direta. Por exemplo, usando a cozinha da minha casa. Se eu cozinhar um macarrão normal, com glúten, a panela usada vai ser automaticamente contaminada, porque a molécula do glúten é muito fácil de contaminar. E não resolve simplesmente lavando. Nessa mesma panela, um macarrão sem glúten passa a ter glúten. E esse alimento, por mais que fosse inicialmente sem glúten, vai ferir o meu intestino.
Você já precisou ser medicada ou hospitalizada por causa dela?
Eu já fui hospitalizada por conta da contaminação cruzada algumas vezes. Em todas elas, era medicada diretamente na veia. Já cheguei a ficar em observação por horas dentro do hospital.
Qual você sente que foi a parte mais difícil durante todo o processo de adaptação?
Eu acho que foi a descoberta, porque eu passava muito mal mesmo. Cheguei a ter hipotermia, ficar no hospital com a pressão lá embaixo, quase desmaiando e sem saber o que estava acontecendo. Querendo ou não, fechar o diagnóstico de doença celíaca é muito difícil. Até descobrir, foi um processo de um ano inteiro.
E a ideia do Nicole Reig Doces, surgiu como?
A ideia do Nicole Reig Doces surgiu porque eu sempre amei cozinhar. Quando descobri a doença celíaca, muita gente dizia: “Ai, está comendo isso sem glúten, sem lactose, tudo sem sabor”, o que não é verdade. Em 2019, eu dei de presente para os meus professores do colégio um bolo de pote, por ser dia dos professores. Todo mundo amou, e comecei a vender bolo de pote na escola. Aprendi a fazer todos os doces e receitas que eu queria, porque precisava ingerir e tinham poucas opções no mercado. Os meus amigos foram comendo, foram gostando e todo mundo me incentivando a vender. Abri o Nicole Reig Doces, comecei com bolo de pote e alguns bolos grandes para pessoas específicas. Então, em 2020, no meio da pandemia, depois de uma cliente incentivar e alguns amigos também, eu criei um perfil no Instagram.
Quais estão sendo as maiores dificuldades de empreender durante a pandemia?
Principalmente, a falta de matéria-prima. Por conta da crise que o nosso país está vivendo, as coisas estão muito mais caras do que o normal, né? Por isso, fica difícil manter um padrão na própria empresa. A gente quer que fique de uma certa forma, e por motivos de força maior, não consegue. Além de mais caras, às vezes a matéria-prima simplesmente não chega, porque teve que fechar tudo de novo (lockdown) e aí as empresas em São Paulo não mandam o que precisa para cá. Meu coração fica acelerado, ainda mais a gente que trabalha com comida, porque dependendo da situação não tem como guardar a encomenda por muito tempo.
Algo que você queira dizer para alguém que recentemente descobriu a doença?
Eu acho que a primeira coisa que essa pessoa tem que entender é que ela não está sozinha. As coisas vão melhorar conforme você for pegando o jeito. Existem grupos perfeitos de apoio com outros celíacos, onde vão te apoiar e, com certeza, ajudar a entender determinadas coisas. Mas, o principal: é extremamente importante que você siga a dieta corretamente, porque mesmo não sentindo a dor de verdade, já que cada um manifesta a doença celíaca de um jeito, o seu intestino está sendo agredido. Então, seguir a dieta livre de glúten é essencial.
Nossa eu amei! Sempre tive dúvida sobre o que é a contaminação cruzada mas tinha vergonha de perguntar hahahaha
que matéria importante e esclarecedora, meus parabéns Ana! Com certeza sai com muito mais respeito e conhecimento do que entrei.
Já estou ansiosa pelas próxima! 💘
Olá Ana, tudo bem? Amei a sua reportagem! Realmente é primordial que se tenha a quebra dos paradigmas em relação à enteropatia sensível ao glúten, já que a mesma afeta diversas pessoas todos os dias!